terça-feira, 28 de agosto de 2012

E o dia em que (quase) aconteceu de tudo?

Prometi, então lá vai a história...
Era uma vez... uma menina que ama U2. Desde sempre. Tinha muitas coisas que a faziam amar U2, dos discos de vinil emprestados e nunca devolvidos até o presente de aniversário mais insólito de todos: estava lá na loja de discos (ah, que nem existe mais...) perguntando pelo último CD que ainda não fora lançado, faltavam longuíssimos três dias para o lançamento mundial, e ela pediu pro vendedor pra ser a primeira a saber quando chegasse na loja. E era seu aniversário, pensa como seria bom se fosse? E... milagres acontecem todo dia, basta você espiar pelo cantinho do olho (os milagres não são de se mostrar pra qualquer um!!). A moça sai da loja, e vem o vendedor correndo e gritando (essas coisas que só acontecem com ela, rsrs): "Moça, chegou!!" Chegou o que, gente? "O seu CD, chegou!!". E ela ganhou o CD de presente, teve a graça de ser a primeira a tê-lo em mãos, coisa de fã!! Pois é...
Então, eles vêm ao Brasil. A agonia de esperar pela compra do ingresso. No fatídico dia, ela espera acordada que comecem as vendas, como uma criança sonolenta espera o Papai Noel passar com seu trenó. E lá está a criança a postos, tenta, e tenta... e o site de compra trava por duas longas horas (já são duas da manhã, menina, vai dormir...) e quando destrava é pra anunciar que acabaram os ingressos!! Como assim??? Lá vai a menina chorando de soluçar, dormir sem ver o Papai Noel. Quem consegue consolar?? Dois dias depois, a menina descobre que vai ter mais uma chance: outra data de show. E a esperança floresce de novo: dessa vez eu consigo!! E chega o dia de comprar ingresso, a doida entra no site que começa a travar DE NOVO, então, ela que nunca foi esperta, resolve sê-lo: compra láááá dos Estados Unidos, que meda, e se a jeca tomar um tombo e for tudo de mentirinha? Nada de ingresso, trouxa. Mas tá feito, só resta esperar o dia. Que enfim, chega. Ela só tem que embarcar no avião, chegar a São Paulo com quase cinco horas de antecedência, escolher o lugar e curtir. Mas como toda história dessa menina tem que ter a versão "com emoção", essa não poderia ser diferente. O que acontece? Ela vai pro Aeroporto, super a tempo, e resolve tomar um chocolate da Kopenhagen, resistir, quem há de? O marido avisa: vamos logo, não temos tempo!! Calma... E então eles chegam ao salão de embarque, olham para o avião taxiando e, sem querer acreditar, já sabem: lá se vai o avião!!! Sem eles!!! Como assim? Depois de chorar, prometer mil avemarias, tentar achar outro voo, vem o desespero: eles vão perder o show!! Eis que o marido, então, coloca a menina no táxi, vão parar dentro de um ônibus pra São Paulo, e o que iria demorar 40 minutos demora seis horas. Enfim.
Pelo menos, estamos em São Paulo, vamos correr que dá tempo. Pega metrô, pega trânsito engarrafado, a experiência "São Paulo" se revela completa. Sem poesia possível. Chegando ao Morumbi (eles e outros 50 mil fãs), começa a chover, claro!! Faltam 15 minutos para o começo do show, os dois cansados e amassados, bate o medo: e se não tiver ingresso nada? Coração na boca, lá vai ela na bilheteria buscar o bendito. Quando ela pega os ingressos, seu nome escrito e tudo, o que resta fazer? Senta e chora. E corre pra achar lugar. É tanto motivo pras desistir, e tanto milagre junto, que a menina olha para aquela estrutura monstruosa de aço e caixas de som, e pensa: se eu morrer depois de hoje, tá bom assim. 
Ah, sem esquecer de contar que o show foi, mesmo, tudo que ela esperava. Pra isso é que existem os sonhos. E os maridos sensatos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olha só, eu me achei de novo, rs...

Depois de ouvir Adélia Prado contando suas peraltices de esconder do/no tempo... Depois de sentir Rubem Alves falando só pra mim numa plateia lotada... Ah sim, é claro que eu imaginei. Mas no meu universo, eu posso tudo isso, até tomar um cafezinho com Clarice Lispector, perguntar a ela, que tem aqueles olhos gigantes e já descrentes da doçura que é a vida: "Quer mais bolo?". E depois de tudo isso, resolvi que eu preciso mesmo voltar a escrever, e de que importa se não terei leitor? Eu só quero ter o gosto de contar a minha versão dos fatos, ou não-fatos, ou meios-fatos-meias-lendas!!!
Aí que eu procurei na caixinha de lembranças: ué, mas cadê meu blog?? Meu caderninho virtual... Até comecei outro, mas eis que achei, tô aqui de novo.
E o que tem pra hoje?
Tem a minha mãe.
Vou falar sobre ela. A de verdade e a que mora em mim. Meu monstro particular (ela sabe ser tantas coisas).
Eu só comecei a saber quem era minha mãe há uns cinco ou dez anos (talvez quinze dias ou trinta segundos, depende de minha relação com o não-tempo). Antes de saber, eu só via, ouvia, brigava, amava, destruía minha mãe dentro de mim pra depois colar os pedaços e refazer aquela imagem toda. E tudo outra vez, mil, duas mil vezes.
Ela é bonita, pra começo de conversa. Acho que ela não sabe disso. Ela pensa que "era" bonita, só porque não queria que o tempo tivesse deixado marcas na pele, no corpo, no coração. Mas sim, o tempo deixou marcas, e isso só foi possível porque ela passou por ele (o tempo), sobreviveu a ele, venceu o tic-tac-tic e está aqui pra contar. Além de bonita, ela é muito engraçada, principalmente quando está muito brava. Ela acha que sabe como é a vida, olha só que piada. Ela fala com propriedade sobre tudo, até sobre o que ela não entende. Se leva a sério horrores. E não consegue ver uma pessoa dois dias seguidos sem implicar com o jeito de falar, a risada, a pisada no chão ou qualquer outra coisa. Mas se você a encontra uma vez por mês, é capaz de acreditar que ela é um docinho de coco todo santo dia. É nada. Volte amanhã e veja por si, daí me conta. Ela é capaz das doses mais generosas de carinho e atenção, mas só se ela quiser. Ela também é capaz das grosserias mais gratuitas, o que me faz corar de vergonha vez em quando. Mas eu não conheço alguém que diga: Ah, eu não gosto dela. Que mistério.
Minha mãe é uma fortaleza. Nos criou a todas sem saber o que fazer, errando muito mais do que acertando.   Ensinando como não ser, mesmo ela sendo. Duvidando de nossa capacidade de acertar, mesmo torcendo desesperadamente para que desse certo. Vigiando de longe, e dizendo: nem ligo... Economizou tanto em gestos afetuosos e palavras gentis, que mal sabíamos de quanto amor ela é capaz. Agora gasta tudo com todo mundo, penso eu que deve ter medo de morrer sufocada de amor. Minha mãe é doida. Minha mãe é santa. Minha mãe sou eu, de todas as formas que eu olho pra ela, me vejo. E gosto disso, sim.