segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olha só, eu me achei de novo, rs...

Depois de ouvir Adélia Prado contando suas peraltices de esconder do/no tempo... Depois de sentir Rubem Alves falando só pra mim numa plateia lotada... Ah sim, é claro que eu imaginei. Mas no meu universo, eu posso tudo isso, até tomar um cafezinho com Clarice Lispector, perguntar a ela, que tem aqueles olhos gigantes e já descrentes da doçura que é a vida: "Quer mais bolo?". E depois de tudo isso, resolvi que eu preciso mesmo voltar a escrever, e de que importa se não terei leitor? Eu só quero ter o gosto de contar a minha versão dos fatos, ou não-fatos, ou meios-fatos-meias-lendas!!!
Aí que eu procurei na caixinha de lembranças: ué, mas cadê meu blog?? Meu caderninho virtual... Até comecei outro, mas eis que achei, tô aqui de novo.
E o que tem pra hoje?
Tem a minha mãe.
Vou falar sobre ela. A de verdade e a que mora em mim. Meu monstro particular (ela sabe ser tantas coisas).
Eu só comecei a saber quem era minha mãe há uns cinco ou dez anos (talvez quinze dias ou trinta segundos, depende de minha relação com o não-tempo). Antes de saber, eu só via, ouvia, brigava, amava, destruía minha mãe dentro de mim pra depois colar os pedaços e refazer aquela imagem toda. E tudo outra vez, mil, duas mil vezes.
Ela é bonita, pra começo de conversa. Acho que ela não sabe disso. Ela pensa que "era" bonita, só porque não queria que o tempo tivesse deixado marcas na pele, no corpo, no coração. Mas sim, o tempo deixou marcas, e isso só foi possível porque ela passou por ele (o tempo), sobreviveu a ele, venceu o tic-tac-tic e está aqui pra contar. Além de bonita, ela é muito engraçada, principalmente quando está muito brava. Ela acha que sabe como é a vida, olha só que piada. Ela fala com propriedade sobre tudo, até sobre o que ela não entende. Se leva a sério horrores. E não consegue ver uma pessoa dois dias seguidos sem implicar com o jeito de falar, a risada, a pisada no chão ou qualquer outra coisa. Mas se você a encontra uma vez por mês, é capaz de acreditar que ela é um docinho de coco todo santo dia. É nada. Volte amanhã e veja por si, daí me conta. Ela é capaz das doses mais generosas de carinho e atenção, mas só se ela quiser. Ela também é capaz das grosserias mais gratuitas, o que me faz corar de vergonha vez em quando. Mas eu não conheço alguém que diga: Ah, eu não gosto dela. Que mistério.
Minha mãe é uma fortaleza. Nos criou a todas sem saber o que fazer, errando muito mais do que acertando.   Ensinando como não ser, mesmo ela sendo. Duvidando de nossa capacidade de acertar, mesmo torcendo desesperadamente para que desse certo. Vigiando de longe, e dizendo: nem ligo... Economizou tanto em gestos afetuosos e palavras gentis, que mal sabíamos de quanto amor ela é capaz. Agora gasta tudo com todo mundo, penso eu que deve ter medo de morrer sufocada de amor. Minha mãe é doida. Minha mãe é santa. Minha mãe sou eu, de todas as formas que eu olho pra ela, me vejo. E gosto disso, sim.

Um comentário:

  1. Autêntico o texto, sempre fico torcendo pra você escrever, sempre serei seu fã nº1. Gosto da sua sinceridade e da sua maneira de enxergar as coisas. Beijo

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