quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pensares de um dia de manhã

Todo dia acordo cedo. Antes do sol se espreguiçar. Se eu gosto? E o que é que se faz só por gostar, menino? Hoje o céu estava meio assim, feinho. E que calor. Mas vamos lá, não tem outono o ano inteiro por aqui, acabo me mudando pra Islândia qualquer dia desses.
Veste a farda, põe a máscara, calça a cara e vai... Entro no meu pequeno universo paralelo (o carro) e ligo o som, bem alto, que é pra fingir que a adolescência ainda mora em mim. Café na padaria. Um pingado e um pão branquinho, com manteiga e não margarina, pelamordedeus. Eles nunca me atendem/entendem, e eu como calada o pão com sebo. Tem jornal bem de frente ao caixa, leio só a chamada de capa e me interesso profundamente por longos dois segundos no que está estampado ali. Vejo na vitrine, meus olhos não creem: isso é o que, moça?? Rabanada. Me vê duas. Não, seis. Que gosto tem??
Sigo meu caminho pensando e penando, lembro que nunca comi rabanada mas José Mauro de Vasconcelos já, ele me contou que tem gosto de infância e de Natal e de pobreza e de família que sofre junto mas fica junto. Já vivi tudo isso, então eu sei o gosto sem ter comido (Ah, quer saber quando é que ele me contou? Leia "Meu Pé de Laranja Lima vinte e cinco vezes na vida, que você acaba falando com ele também). Penso também que, paradas no farol fechado, tenho à direita uma mulher, à esquerda outra. Frente de batalha, companheiras incógnitas, amazonas em cavalos de aço. Não posso evitar o machismo de saias ao pensar: Uhúúú o mundo é nosso e é rooosa.... Penso também que tem gente que se acha sem ser, e quem é mas não sabe, e quem nem é nem sabe nada, e ....Enfim, cheguei. Meu trabalho, aquele que já foi minha tábua de salvação de mim mesma, a coisa mais legal e significativa da minha vida, e hoje é o lugar onde eu ganho dinheiro pra comprar meus sapatos. Tenho muitos. Muito mais do que uso. Deve ser porque um dia tive um só durante quatro anos. As histórias tristes da minha vida parecem um filme que já vi e não gostei. Vejo pessoas. Como uma colmeia, cada um tem funções e são tão dependentes cada um do outro, e nem sabem que vivem numa teia, presos como insetos que serão, fatalmente, devorados. Uns sorriem, de imbecilidade ou por obrigação. Outros se alheiam a tudo, são paredes ambulantes, vazias, frias e feias, bem concretas de si, e tão facilmente derrubadas quando se quer "ventilar" ou "isolar" algo, tudo é circunstancial e tem gente que é tão grave... Tanto pensamento assim, é assim mesmo, um caos minha mente, e ainda nem faz uma hora que acordei... ou é que ainda estou sonhando?

P.S.: Experimentei a danada da rabanada. E não é que tem o gosto igualzinho ao que eu já tinha na lembrança antes de saber?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sempre eu mesma, mas não sempre a mesma

Ei, pessoas... Obrigadissima pela visita, e mais ainda pela gentileza, é bom saber que de certa forma, minhas palavras tocam algo, despertam, sei lá...
Postarei hoje um poeminha que escrevi durante um curso de escritor (aiii que chique!!) que fiz em São Paulo, eram oficinas com Gabriel Perissé, quem lê sabe de quem se trata, minha homenagem a esse cara brilhante que consegue tirar não só leite de pedra, mas mel e perfume...


Poema-Minuto (ou Bom Dia, São Paulo!)
A borboleta se opõe ao concreto asfalto.
Do alto do prédio, vejo - a vida corre,
decerto por não saber caminhar lento.
Chão cinzento, e céu cinzento, e pessoas
ton-sur-ton com suas fardas e máscaras.
Tudo tão organizado, que não acha lugar
a pergunta: onde o caos se esconde?
De onde me espreita o gênio mau da inquietude?
De onde vemessa vontade oca de ..................
Gritar? Gargalhar? Atravessar a rua sem olhar
para os dois lados? Sacudir a moça da bilheteria do metrô
que não sabe sorrir, talvez porque
aqui não se ri, tudo é tão eficiente e rápido e fácil
que o mais se perde, e secamos por dentro
como folhas de outono, e não há primavera possível
para quem esqueceu:
A borboleta se opõe ao concreto asfalto.
E em suas asas de leveza,
carrega um segredo meu e dela.
(janeiro de 2000)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Repente

Aí vai outro, dos anos 2000, feito durante uma aula de cursinho (sim, eu cabulei aula, confesso... se é uma justificativa, a aula era Geometria Analítica, affff)



Repente
...e o céu prenuncia a tempestade.
E toda a secura, toda a espera,
Todo esse vazio repleto de mil nadas
dentro de mim... e não faz chover.
Tudo que é latente, doce e denso,
Tudo que é vivo, sereno e selvagem
Se confunde em imscíveis cores.
De repente, raios e trovões e ventos.
O céu, de manso azul cinzento que era
reflete agora esse tom púrpura e sanguinolento,
furioso...
E cai a chuva, de tal modo dona de si.
A terra a recebe, como se esperasse há muito
e se abrisse para tal... como a espera doentia
po algo que certamente não viria
e numa bênção aparecesse, de repente...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um caderninho, tanto sentimento...

Se é pra começar, então um, dois, três, já...
Comecei a escrever quando menina, meio sem querer. Um concurso de redação, em que o tema era o meio ambiente. Pronto, escrevi, venci. Virei uma celebridade-relâmpago em época pré-Big Brother! Conseqüência: a partir de então, me sentia "obrigada" a escrever sempre.
Claro que muita coisa a gente joga fora, minha grande amiga Clarice (sim, a Lispector, minha amiga póstuma com quem jamais pude compartilhar uma tarde de café e fofoca) , pois a Clarice disse: o melhor amigo do escritor é a lata de lixo.

O que ficou de então? Um caderninho, antigo e bem guardado, que eu custava a querer mostrar. E agora, essa se-mostração na web... mistérios!

Vou postando devagar....


A poesia derramada e solta
Eu a catei do solo e enchi as mãos
E se soube dela fazer pão,
Ah... A minha fome não cessa.

E continuo juntando,
Tais folhas de outono, palavras.
Com elas, brinco, rio,
Com elas me conheço e amo.

Poetando lembrando:
Mesmo a dor latejante
Vale um poema-sentido.